O
eclipse solar, tema deste poema verbo-visual que fala de destruição e recriação,
envolve batalhas religiosas e estéticas que são travadas em séculos distintos.
No século XVII, Don Cristóbal, um
sacerdote andino convertido ao cristianismo, se sente perseguido por um círculo
branco, o Sol da meia-noite, que não se rendeu ao poder da cruz, a qual está inscrita
na própria página branca do poema.
Muito depois, no século XX, o Sol do
meio-dia é recoberto na Rússia pela cruz do quadrado negro, cujas lados irregulares
sofrem convulsões e dão origem ao quadrado branco e ao círculo invisível da
arte e da religião desmaterializadas, como testemunha o manifesto de 1923, “O
espelho suprematista”, de Kazimir Malévitch.
No poema, os dois momentos históricos são “contemporâneos” graças à ação de um simples clipe (versão irônica do prego sagrado), que é capaz de uni-los na folha em branco, na qual convivem círculos e quadrados andinos e russos.