sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

"O Espelho de Huarochiri" (2022) e "Veritotem" (2022)

O ESPELHO DE HUAROCHIRI

       O eclipse solar, tema deste poema verbo-visual que fala de destruição e recriação, envolve batalhas religiosas e estéticas que são travadas em séculos distintos.

      No século XVII, Don Cristóbal, um sacerdote andino convertido ao cristianismo, se sente perseguido por um círculo branco, o Sol da meia-noite, que não se rendeu ao poder da cruz, a qual está inscrita na própria página branca do poema.

       Muito depois, no século XX, o Sol do meio-dia é recoberto na Rússia pela cruz do quadrado negro, cujas lados irregulares sofrem convulsões e dão origem ao quadrado branco e ao círculo invisível da arte e da religião desmaterializadas, como testemunha o manifesto de 1923, “O espelho suprematista”, de Kazimir Malévitch.

       No poema, os dois momentos históricos são “contemporâneos” graças à ação de um simples clipe (versão irônica do prego sagrado), que é capaz de uni-los na folha em branco, na qual convivem círculos e quadrados andinos e russos.