sábado, 22 de abril de 2023

O que aparece e o que não aparece (2023)

       Ao propor um retrato verbo-visual do Antropoceno, este livro de poesia de Sérgio Medeiros mostra inumanos (animais, plantas, pedras etc.) avançando pelas antigas e desoladas obras humanas (lavouras, estradas, ruas etc.), mas algo ainda aspira a ser expresso na linguagem das letras e dos glifos, registrada em petróglifos arcaicos e outdoors contemporâneos. Urubus sobrevoam o mundo, lançando sua sombra e seu olhar sobre os textos humanos, que se misturam agora inextricavelmente a textos inumanos, pois, no fim, só existe um livro, o Livro Único, como ensinou V. Khlébnikov, no qual todos, velhos inumanos e novos humanos, escrevem e leem.

LEIA GRATUITAMENTE AQUI

4 comentários:

  1. Como dizia Murilo Mendes, "olho armado". Você é o poeta de maior acuidade visual no Brasil. Gosto que alguns descritos não contenham símiles. Gosto de símiles em outros. O urubu é seu totem?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O urubu tem olhar agudo, vê de longe muito bem, é assim que descobre o moribundo e o morto (por mais escondidos que estes estejam), mas ele mesmo não mata nada. Ele busca... O urubu é o elo entre o céu e a terra, entre os vivos e os mortos. Sem ele, o alto e o baixo ficam separados. O urubu é um olhar que voa, por isso ele é um dos seres que compõem o meu totem, que é uma massa nebulosa efervescente (toda massa nebulosa o é). O urubu faz parte do meu poste totêmico, que é uma "composição" explosiva, repleta de sonoras asas que batem quando tudo parece adormecer: então os olhos do totem e os dos humanos têm de se abrir.

      Excluir